Contrariando um ambiente infiel a produção artística, devido a crise do pós-guerra e a má fama que a Alemanha estava cultivando no cenário mundial, o Expressionismo Alemão foi um grande destaque no cinema. Como vimos na postagem anterior (que você pode acessar clicando aqui), esse estilo pode ser resumido pelo uso exagerado dos gestos e maquiagem e distorção dos recursos de câmera. Tudo isso para exibir nas telas os sentimentos que aquela nação vivia. A primeira metade do século XX foi de grandes produções no cinema de terror focado em monstros da mitologia européia e acidentes nucleares. Usando a fantasia, os cineastras despertavam questões que a sociedade não discutia publicamente, com elementos obscuros de uma população marcada pelo autoritarismo da estrutura monárquica imperial e dos anos de guerra, quando a miséria e a opressão atingiram toda a sociedade.

Cena do filme; O Gabinete do Dr. Caligari.

Uns dos primeiros filmes foi "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene. No filme, temos um show de aberrações onde um médico apresenta um sonambulo que é manipulado para surpreender a platéia. Porem o médico é capaz de induzir o sanambulo a tudo, inclusive a crimes. Não se pode tirar um conceito concreto da trama, algo tão simples de ser explicado. Mas podemos compreender que a população estava a muito tempo sofrendo com regimes totalitários e a manipulação do médico sobre o sonambulo poderia indicar isso. O cinema, desde aquela época, ia além de uma forma de prazer. Também levantava criticas sociais. Utilizando exageradamente cores e contrastes, abordando preferencialmente temáticas como solidão e miséria, o expressionismo reflete a angústia e a ansiedade que dominavam os meios artísticos e intelectuais alemães nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.

Contrariou os movimentos positivistas que surgiam pela Europa, dando mais ênfase aos sentimentos internos do artista do que ao cenário que era idealizado a sua volta. Por isso fazia-se uso de gestos exagerados e o cinema mudo dava mais oportunidade a esses elementos serem trabalhados do que o cinema atual, por conter menos diálogos e mais expressões corporais. Ao contrário dos estilos renascentistas, clássicos e neoclássicos, não produzem uma visão de sociedade perfeita ou desejável, mas dão vazão aos sentimentos reprimidos, à angústia e ao deslocamento do artista em relação à sua sociedade.

Além do cinema, tiveram produções em outros meios artísticos, mantendo os mesmo elementos. Na pintura expressionista envolvia o uso estático da cor e a distorção emotiva da forma, tratando também do aspecto profundo, divino e imperceptível das coisas. Na literatura temos Franz Kafka, apontados por alguns como expressionista, usando recursos como a escrita clara e da ironia com a expressão lírica. Esses elementos que podemos continuar vendo nos catarses dos filmes da época.

Cartaz do filme Nosferatu

O Expressionismo Alemão começou o seu desfecho com a estréia do filme Os Nibelungos. Colocando em cena um grande conto para a nação alemã, o filme apontava esperança e superação na sua trama. O enredo começa com a forja de um anel mágico e que vários personagens tentam possuir ele, mostrando o que a ambição pelo poder pode provocar no indivíduo. Colocando na história vários personagens da cultura escandinava e e germânica, incluindo Wotan, chefe dos deuses, que também pode aparecer com o nome de Odin em outras histórias. O estado social também apontava para uma esperança emergente. Os alemães estavam começando a sair da crise e sistemas liberais estavam assumindo o poder, pelo menos era o que se pensava naqueles dias sobre o que viria a se torna.

O dragão morreu e a história poderia ter um final feliz. Foi perdendo espaço para os filmes e as propagandas nazistas. Que baniam e censuravam inúmeras produções e sufocavam a liberdade artística.

Como diria o historiador Wolney Malafaia,

"Os fantasmas que foram despertos e os monstros que assombravam os alemães nos primeiros anos do pós-guerra, apareceram primeiramente nas telas para depois ganhar vida no mundo real."


Recomendação Bibliográfica:

EISNER, Lotte H.  A tela demoníaca. As influências de Max Reinhardt e do Expressionismo. Tradução: Lúcia Nagib. Rio de Janeiro: Paz e Terra: Instituto Göethe

KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão. Tradução: Tereza Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor

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