Muitos podem imaginar que se trata de um sentimento
moderno, mas a experiência provocada ao assistir a um filme de terror já começa
a ser definida na antiguidade ocidental com analises à tragédia grega, e ainda
hoje continua a ser estudada por filósofos, psicanalistas e pensadores.
Aristóteles (384 a .C.-322 a .C.) atribuiu o nome de Catarse ao
processo que levava à tomada de consciência com o sentido fundamental de
limpeza, purificação, purgação, ao examinar os efeitos da tragédia sobre o
espectador, constatando assim sua grande utilidade pública como mediadora de
questões e reflexões sociais, numa espécie de “prazer trágico”. Observa-se que
os estudos envolvendo a Catarse intensificam-se no século XX amparados em
filósofos como Kant e Hegel, que elevam este processo ao campo das artes e da
cognição humana.
Durante a exibição de um filme de terror, emoções e
situações são representadas e nós, espectadores, somos capazes de criar reflexões
que abarquem questões morais e culturais, como uma elevação de nossa humanidade
e singularidade. É uma experiência que nos educa ao estranhamento ou
aproximação das práticas sociais de forma que cada indivíduo se enriqueça a
partir de suas próprias reflexões e vivencias. Sigmund Freud (1856-1939),
psicanalista austríaco funda o ramo psicológico da “Psicanálise” ao observar os
resultados que a catarse provocava em pacientes que buscavam a cura para seus
traumas.
Assim, nos empolgamos e procuramos filmes cada vez mais
assustadores porque, seguros em nossas poltronas, fantasmas e assassinos não
passam de efeitos especiais que conseguimos transformar em conhecimento e na
expansão de nossa compreensão sobre o mundo e principalmente a nós mesmos.
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Acesso em 30 Mar. 2017
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